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quinta-feira, 29 de novembro de 2007

É NATAL


É Natal. O Natal mais murcho que já vi. Um Natal de perus e de Noels cabisbaixos. Um Natal sem alegria e sem gentileza. Um Natal conforme os tempos “frios de amor” no qual vivemos. Sim, este está sendo um Natal cruel em todo o mundo! Que Natal é este? Este é o primeiro Natal não-cristão da humanidade ocidental nos últimos mil e setecentos anos. Falava-se de “mundo pós-cristão” desde muito tempo atrás. Também se falava de “pós-modernidade” desde há muito. No entanto, mesmo que o “fenômeno” já fosse uma realidade cultural e religiosa, não havia ainda se tornado algo afetivo e emocional. Ou seja: nas últimas duas décadas, mesmo já sendo este um mundo “pós-cristão”, cultural e religiosamente falando, ainda se tinha a “energia inercial” dos romantismos fraternos dos natais cristãos, a qual se manifestava ainda em muitas expressões de espírito de reconciliação e de fraternidade. Neste Natal, entretanto, quase que de um modo geral, sente-se à desafeição do ano inteiro, prevalente como espírito, nas ruas, nas casas, nos olhares, nos gestos, nos desinteresses, no congelamento das afeições—conforme o que se vê o ano inteiro. A humanidade Ocidental, agora, começará a saber como é viver num mundo no qual as Festas da Cristandade não têm nenhum significado, além do termo que a própria Casa Branca, dos crentes americanos, já adotou. Ao invés do Merry Christmas de sempre—o que ainda remetia para a cristandade—, agora, pelo segundo ano, adotou o politicamente correto Happy Holidays. Jesus não nasceu no dia 25 de dezembro. Mas isto não tem nenhuma importância, visto que a maravilha da Encarnação deve ser a loucura nossa de cada dia. O que sinto falta é da gentileza que parecia ressurgir dos mortos ante o romantismo do dia do ‘Nascimento de Jesus’. E não sinto falta disso para mim mesmo, mas apenas como lamento de quem vê como as pessoas vão ficando a cada dia mais geladas. Meu Natal é o ano inteiro, pois, quem quer que deseje viver o espírito do Evangelho, viverá da fé na Encarnação cada segundo de seu existir. A Era Glacial começou! Bem-aventurado seja todo aquele que não se deixar gelar! Só há um antídoto contra o Natal de Selo: o amor que se dá; e que também valoriza pai, mãe, irmão, amigo, família, e, sobretudo, a paz. Feliz Natal Interior! Nele, que só nasce em corações,


CaioExtraido do site: http://www.caiofabio.com/

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

THANKSGIVING, nesse ano 2007, no dia 22 Novembro

nos Estados Unidos, um dos feriados mais importantes da história do calendário norte-americano, diga-se de passagem. O "Dia de Ações de Graças", Thanksgiving, trás um clima de confraternização aos lares e transforma o país! É dia em que as famílias se reúnem ao redor de toda a nação e a mesa, é servido o Perú, em memória aos pais desta terra. Um pouquinho da história...A história do Thanksgiving (Dando Graças) começou em 1621 quando os pelegrinos vindos da Inglaterra para o "novo mundo", hoje os Estados Unidos, celebraram o agradecimento pela colheita do ano na colônia de Plymouth. Na ocasião, cerca de 90 índios nativos, os Wampanoag, participaram da festa dos pilgrims (pelegrinos em english). Os novos americanos estavam comemorando a benevolência de Deus para com eles num período em que mais da metade dos pilgrims haviam morrido por causa do inverno causticamente por que passaram. Sem a ajuda dos índios, todos teriam morrido! Na primeira colheita, o governador William Bradford proclamou um dia de ação de graças e oração a Deus pela provisão dos alimentos. Na festa, um dos principais ingredientes era o peru, que ficou como marco da celebração do Thanksgiving. A festa durou três dias e apesar de não se ter uma data certa desta celebração, historiadores relatam que foi no final do outono. Em 1623, um período de seca varreu os Estados Unidos. Os colonos da "Nova Terra" proclamaram um dia de jejum e oração e mais uma vez, depois que Deus envia chuva dos céus, é celebrado um dia de ação de graças na terra do Tio Sam. É interessante perceber que no início da história dos Estados Unidos muitas foram as celebrações de Thanksgiving e proclamações de datas em que os americanos se lembrariam de agradecer a Deus. Não importavam aos novos americanos os maus tempos. O povo sabia que Deus era o criador e provedor de todas as coisas. E também neste clima aproveitamos a oportunidade para agradecer a Deus por tudo que Ele tem feito por nós. Afinal de contas, nós, os brasileiros em US, somos "pilgrims" na terra do Tio Sam também e muito temos a dar graças. Pela provisão diária, pela acolhida deste país, pelo trabalho, saúde e oportunidade de uma nova vida!
(Texto extraído da revista Linha Aberta).

sábado, 10 de novembro de 2007

O Sábado Judaico e o Domingo Cristão - Edmar Barcellos

O sábado judaico O domingo cristão Agradecimentos Ênfase e Lógica contra as Heresias IntroduçãoI – Cisternas rotas 1. Psicografia gospel ou espiritismo evangélicoDecepcionante paradoxo2. Judaizantes modernos II – As divisões do tempo O calendário III – O Sábado Judaico Na escravidão, os israelitas não tinham sábado Sábado: um sinal identificador do povo de IsraelOs sinais identificadores da Igreja de Cristo O sábado: um tipo de CristoO árduo plano de Deus para nossa salvaçãoO declínio do sábado judaicoCaracteres cerimoniais do sábadoIV – Lei, Lei Moral, Lei Cerimonial, Lei de Deuse Lei de Moisés1. Lei2. Lei Moral3. Lei Cerimonial4. Lei de Deus, Lei de Moisés5. A Lei como uma “dispensação”A Lei6. A Lei e a GraçaV – Anomia x LegalismoLei da Fé, Lei de Cristo, Lei do Espírito de Vidaou Lei da LiberdadeVI – O domingo cristão1. O primeiro domingo da história2. A ressurreição de Jesus Cristo e o domingo3. A origem da palavra “Domingo”4. Resgatando verdades históricas5. Odres novos para o vinho novo6. O domingo foi prefigurado na Lei7. Domingo: dia do Nascimento da Igreja8. Domingo, Dia de Jesus, Dia da Igreja9. Domingo, o principal dia da semana VII – Breves respostas aos argumentos adventistassobre o sétimo dia1. Devem os cristãos guardar o sábado do sétimo dia?2. Por que só os israelitas devem guardar o sábado,e não também os cristãos?3. As festas judaicas (os sábados anuais) é que cessaram,mas não o sábado semanal4. Por que considerar as festas judaicas e o sábadocomo figuras ou sombras?5. O sábado está na “Lei Moral”, a lei das tábuas de pedra,e por isso deve ser guardado6. Por que dizer que a guarda do sábado do sétimo dia éum mandamento cerimonial?7. O sábado é tão importante que foi mencionado 60 vezesno Novo Testamento8. As mulheres repousaram no sábado, conformeo mandamento (Lc 23.56). Isso prova que o sábadoera guardado nos anos 60, quando Lucas escreveu o seu Evangelho 9. Jesus, sabendo que o sábado seria guardado depois dasua ressurreição, disse:10. O apóstolo Paulo pregava aos sábadosnas sinagogas (Atos 13:44)11. O santo sábado será observado na Nova Terrapor toda a eternidade12. Por que os judeus queriam matar Jesus?VIII – Bibliografia (Textos dos originais hebraicos, gregos e latinos)Versões Católicas da Bíblia Versões Evangélicas da Bíblia.

domingo, 28 de outubro de 2007

O Encontro - Escrito por Ariovaldo Ramos

A cena é extraordinária, porém, quando você a conta, as pessoas emendam de pronto: "É...isso só acontece em filmes!" Woody Allen fez um filme chamado "A Rosa Púrpura do Cairo". A temática é muito interessante. Conta a estória de como o amor de uma espectadora, vivida por Mia Farrow, pelo herói do filme, um explorador tipo "Indiana Jones", concede autonomia ao personagem que, correspondendo ao amor da moça, escapa da tela, causando uma revolução no filme. A cena acontece num cinema onde a personagem em questão está assistindo ao filme pela vigésima vez. Em dado momento, o herói interrompe a cena, volta-se para ela e diz: "Puxa, é a vigésima vez que você está assistindo a este filme!". Ela, surpresa, responde:"Como?!". Mas, apesar de atônita continua dialogando com o herói que, em seguida, sai do filme, da tela e vai ao encontro dela. Ao alcançar sua admiradora o protagonista declara-se, dizendo como o amor que ela lhe dedicava havia lhe concedido vida e libertação. Interessante como todos os filmes de Allen, um existencialista assumido, possuem cenas extremamente bonitas, criativas e de um comovente romantismo. Esse filme tem vários momentos interessantes e, num deles, o personagem que saiu das telas se perde e chega a um local onde há muitas mulheres de programa. Ele, extremamente gentil, cavalheiro, bondoso, acaba por provocar a paixão daquelas mulheres que, como prova de amor oferecem-lhe uma tarde de prazer. Ele recusa, confessando-se estar enamorado. Enlevado, começa a descrever a beleza, a bondade, o caráter de sua amada. Ao falar do encantamento que ela lhe produz, diz que jamais poderia relacionar-se com qualquer outra pessoa do sexo feminino, pois havia se entregado a ela pelo resto de sua vida. Como dissemos na abertura deste artigo, a cena é belíssima, extraordinária, porém, quando você a conta, as pessoas emendam de pronto: "É... isso só acontece em filmes". Na verdade, esse era o intuito de Woody Allen - passar a idéia que uma fidelidade e senso de compromisso deste porte, só poderia existir na vida de "faz de conta" dos filmes de Hollywood. Mas, será que tem mesmo de ser assim? Será que não é possível enamorar-se a ponto de fazer com que nosso amor seja a garantia de que não haverá espaço para nenhum outro compromisso? Será que esse tipo de possibilidade está restrito às telas de cinema e televisão? Quando olho para a cena de Gênesis, onde o Senhor apresenta a mulher ao homem, tenho a impressão que, apesar da intenção ter sido totalmente outra, aquela cena tem muito a ver com o que Woody Allen filmou. No texto sagrado há uma exclamação do homem ao ser apresentado à mulher: "Esta, afinal, é carne da minha carne e ossos dos meus ossos e chamar-se-a varoa..." (Gn 2.23). Aí o Senhor conclui: "Por isso deixa o homem pai e mãe, e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne". A cena descrita em Gênesis 2.24 é a de um compromisso que não pode ser quebrado. E um relacionamento cuja intimidade o torna vitalício por não ser apenas de quem olha para o outro e vê algo que gosta, mas vê a si mesmo, ou seja, vê-se complementado, preenchido, encontra-se no outro. Este é um compromisso que não pode ser desfeito porque é um encontro, e parte do princípio de que alguém só pode encontrar-se uma vez, e uma vez que se encontrou, ali residirá para sempre sua identidade. Parece-me que esse é o espírito das Escrituras, que diz que o casamento, o encontro, o amor, é o achar a sua identidade, a sua complementaridade, não no sentido de que somos incompletos sem o outro, mas no sentido de que nossa identidade se dá no relacionamento intenso com alguém. Berkeley dizia que "ser, é ser percebido". E parece-me que nas Escrituras têm-se um encontro dessa natureza, onde o homem diz:"Finalmente existe no planeta alguém capaz de me perceber. E a contrapartida é verdadeira pois, se o homem diz à mulher: "essa é finalmente ossos dos meus ossos e carne da minha carne", a mulher diz o mesmo. A partir daquele momento, em que se encontram, a identidade deles se auto-afirma. Não importa mais quem veio de quem, porque, na verdade, o que importa é que a partir de agora um será por causa do outro, porque tem alguém que o/a percebe. É isso o que a Bíblia chama de "casamento", um relacionamento que dá consistência à existência, porque ela é entendida como mais que a simples manifestação de um fenômeno. A existência aqui é considerada não apenas a partir da consciência que alguém tem de si, mas a partir do olhar do outro, a partir de ser percebido por alguém, querido por alguém, necessário para alguém. Parece que este é o encontro fomentado pela Bíblia, onde a existência se sustenta na percepção do outro. Voltando a Berkeley, "ser, é ser percebido". Sou, quando alguém me percebe vendo-me como a continuidade de si, como parte de si, como indispensável, como único, como desejável. Se entendêssemos o compromisso nessa dimensão, se entendêssemos o casamento nessa perspectiva, certamente, os laços conjugais tornar-se-iam muito mais sólidos porque é inconcebível pensar alguém rompendo com sua própria identidade. É impensável conceber alguém rompendo com o que dá consistência à sua existência, porque aí, romper com o outro, seria romper consigo mesmo. Vemos aqui um princípio estabelecido por Paulo quando ele diz que somos uma só carne, ou por Pedro quando diz que ninguém maltrate a si mesmo, de modo que nosso cônjuge passa a ser de fato carne da nossa carne. Isso torna o relacionamento extremamente rico e profícuo. É interessante perceber que nessa perspectiva, a busca é, na verdade, por si mesmo. A busca possui identidade, a qual encontra-se no outro que, com a sua percepção, vai dar existência à minha existência e vice-versa. O Senhor, antes de apresentar a mulher, fez o homem consciente da sua solidão, de que não havia companheira idônea para ele, que era único da espécie e que, portanto, ainda que o relacionamento com Ele desse consistência existencial a Adão, este não tinha o contraponto na dimensão horizontal. O homem, portanto, tinha a quem adorar, mas não tinha em que se ver e é isso que o Senhor lhe traz, alguém em quem ele pode se ver e que, também, se vê nele. Alguém que dá consistência à sua existência na dimensão horizontal, na dimensão do trânsito no planeta, na dimensão dos outros seres criados. Se tivéssemos essa consciência, nossos laços matrimoniais se tornariam inquebráveis e não haveria espaço para outro relacionamento dessa natureza pelo simples fato de que, volto a dizer, alguém que se encontrou não precisa mais se procurar. Vivemos dias complicados para a família. Alguns apostam em sua falência e já estão, inclusive, propondo outras formas de relacionamento, formas estas que não pressupõem compromisso. O que, porém, não estamos nos dando conta é que a chamada "família tradicional" é que sustenta a identidade de cada um de nós. Se redescobrirmos isso, provavelmente, conseguiremos demonstrar a Woody Allen, com todo o seu ceticismo, que o que ele sonha também pode acontecer fora das telas.

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Humanitária, nunca Humanista

A fé cristã é humanitária e não humanista. O humanismo acredita na bondade intrínseca do homem; já a fé cristã afirma que o homem é mau e constantemente mau o seu desígnio. Quando a raça humana caiu, tudo o que permaneceu de bom nela é fruto do ato divino de emprestar, aos humanos, algo dos seus atributos comunicáveis. Ao rompermos com Deus escolhemos ser o oposto dele, logo, escolhemos a maldade como estilo de vida. Agora, como Deus é o lugar onde vivemos, nos movemos e existimos, ao rompermos com Deus, deveríamos ter deixado de existir, uma vez que fora de Deus nada existe ou pode existir. Então, ao rompermos com Deus dois milagres aconteceram conosco: 1- fomos mantidos na existência, logo, fomos mantidos em Deus. 2- algo da bondade de Deus foi depositada em nós, de modo que, embora optando pela maldade, continuamos a saber e fazer o bem de várias maneiras. Essa possibilidade do bem, em nós, não é mais intrínseca à humanidade, é fruto desse depósito de bondade de Deus em nós. Assim, na mesma medida em que não acreditamos que os seres humanos sejam capazes de, por si mesmos, fazer o bem, acreditamos que vale a pena investir na humanidade porque algo da bondade de Deus lhe foi emprestada. O que torna possível a pessoas que não amam a Deus amarem o próximo. A fé cristã é humanitária, acredita que investir no bem da humanidade vale a pena, porque a bondade de Deus está atuando na humanidade e pela humanidade. A fé cristã não se ilude com a humanidade, mas, ao mesmo tempo, não perde a esperança na humanidade. A fé cristã luta pela humanidade porque sabe que essa é a luta de Deus. Publicado em 01 agosto 2007- as 12:06pm

sábado, 25 de agosto de 2007

MISSÃO- O EVANGELHO

"O Evagelho""Princípio do evangelho de Jesus Cristo. Filho de Deus." Mc 1.1 A palavra evangelho, que significa boas notícias, não era desconhecida no tempo de Cristo, porém, segundo Harvey Cox, em palestra no fitec - forum internacional de teologia contemporânea - era usada para anúncios sobre os movimentos no império romano: nascimento do herdeiro de César ou de suas vitórias, por exemplo. Cristo redefiniu o termo ao usá-lo para anunciar a si mesmo como o grande evento da história humana. A partir de Jesus, boa notícia não tem nada mais a ver com os poderosos, com os que exercem domínio sobre os povos: seja político, seja econômico ou religioso. Boa nova passou a ser o comunicado de todos os atos e práticas de serviço ao próximo, com o objetivo de resgatar o ser humano de toda a treva e de recuperar a dignidade dos aviltados e despossuídos, em todos os sentidos, tendo em vista a igualdade e a justiça. Enfrentemos todas as formas de império opondo ao paradigma do poder o novo paradigma do serviço. Por Ariovaldo Ramos

A Questão da Violência

Desde os primórdios, a raça humana tem se perguntado sobre como podemos viver juntos, já tentamos muitas formas de organização: do clã primitivo até as democracias mais avançadas, como as escandinavas, por exemplo, porém, não conseguimos nos livrar da violência, do assassinato e da guerra.Nós, no Brasil, temos vivido uma das faces mais angustiantes dessa verdade, a violência urbana.Qual a razão disso? Muitas e de variadas naturezas são as causas possíveis, porém, eu gostaria de começar por uma das que subjazem às demais: a ausência de fraternidade.Fraternidade, para nós cristãos, significa a faculdade de ver-se no outro, isto é de ver o outro como um irmão, que merece ser tratado com a mesma dignidade e respeito com que gostaríamos de ser tratados. Quando alguém não se vê no outro, tende a considerá-lo ou como superior ou como inferir, no primeiro caso tenderá à rebelião, no segundo caso a alguma forma de opressão. Se nos víssemos como iguais, as diferenças entre nós seriam apenas funcionais, de modo que todos nos veríamos como parte de um todo, onde todos deveriam trabalhar para o bem de todos, onde todos os movimentos sócio-econômico-políticos buscariam promover a igualdade, em todas as dimensões, o que encurtaria as distâncias entre os seres humanos.Por que temos falhado na noção e na prática da fraternidade? Temos falhado por perda de identidade. Vivemos, desde o fim do século XIX, numa sociedade marcada pela idéia da seleção natural, primeiramente, adotada pela biologia, à partir das idéias de Darwin e, mais tarde, assumida pelas ciências humanas. A tese da seleção natural preconiza a sobrevivência do mais forte o que, na prática, quando transportada para as humanidades, justifica qualquer ato que leve à superação de um espécime sobre o outro. A aplicação disto à sociedade humana implica na amoralidade, isto é na possibilidade de, na luta pela sobrevivência, tudo ser permitido para que um ser humano demonstre seu direito de sobreviver, não importando o que isso venha a significar para outro ser humano. Como em nossa sociedade direito à sobrevivência está diretamente ligado a poder econômico, quanto mais alguém tem, mais direito possui. O Brasil tem sido um exemplo acabado dessa realidade universal. Não é segredo para ninguém, que a legislação brasileira privilegia o patrimônio em detrimento ao direito à vida. A conseqüência dessa forma de pensar e de praticar o direito gerou o Brasil que vivemos, onde, principalmente na área econômica os sinais de fraternidade são imperceptíveis.No Brasil não há limite para a posse, o que, por denunciar a falta de fraternidade gera um estado de guerra, pois, onde o que pode, tudo pode, só resta ao que não pode a revolta. Uma sociedade formada a partir dessa falsa identidade só pode gerar uma sociedade sem propósito comum.Qual deveria ser a identidade assumida para alcançarmos a fraternidade desejada? Para que esse espírito de fraternidade seja desenvolvido é preciso recuperar a verdade bíblica de que a humanidade é uma família criada à imagem de Deus, que é a família padrão, isto é, Deus, que é uma família: Pai, Filho e Espírito Santo – ao decidir criar alguém à sua semelhança só poderia criar uma outra família.Precisamos, no Brasil trabalhar a identidade humana sob a perspectiva da criação. Lembremo-nos que essa distorção vem de longa data, começa pela colonização que sofremos por parte dos portugueses que, ainda que muito anteriores a tese darwinista, na pratica agiam assim, movidos por um catolicismo há muito desprovido da verdadeira fé cristã, o mesmo romanismo que, implantado no Brasil gerou uma ética rarefeita e, logo, uma moral utilitarista; passando pelo positivismo, filosofia dominante no Brasil no século XIX, que influenciou, inclusive, a frase contida em nossa bandeira: Ordem e Progresso, e que pregava a emancipação do homem na sua não necessidade de Deus.Isso precisa ser revisto, e se faz necessário todo um processo pedagógico. Só na medida em que recuperarmos a consciência de que a humanidade é uma família só entenderemos que a fraternidade é o único modo plausível de vida e, assim, a busca pela justiça social deixará de ser ideológica para se tornar existencial. Da mesma forma a conseqüente valorização da vida humana não só promoverá a correção da legislação brasileira como inibirá a violência. Só numa sociedade assim frases paulinas farão sentido, tais como: “Aquele que furtava não furte mais, antes, trabalhe para ter com o que acudir ao necessitado.” – “Aquele que colheu demais não tenha sobrando, para que o que colheu de menos não passe necessidade.” – “Não amordace a boca do boi que debulha milho.” (O que dá a entender que o trabalhador deve ser o primeiro a desfrutar do resultado de seu trabalho).Por onde começar isso? Por todas as possibilidades eu diria. A começar pela compreensão dessa distorção antropológica em toda a abrangência, e a pregação do verdadeiro evangelho que, desde sempre, deveria ter sido o fundamento na construção dessa nação. Mas, também, é possível começar pela prática da responsabilidade social. Ou, por uma revisão do direito praticado no país e conseqüente legislação. Ou pela luta popular, organizando a sociedade civil democrática por políticas públicas que diminuam a distância entre os habitantes deste país. Também, por programas de resgate da juventude da tentação do crime organizado; por exemplo: cada igreja poderia se tornar um centro de recreação e arte para crianças e jovens, ou um centro de reforço escolar, ou de reciclagem profissional, quem sabe, de inclusão digital. O importante é que, imbuído dessa ressignificação do ser humano, deflagremos uma série de medidas com vista ao desenvolvimento transformador sustentável.O papel da Igreja de sal da terra e de luz do mundo implica nesse nível de interação com a comunidade, porque um dos ministérios mais necessários da Igreja na situação descrita é o de agente de paz, não só a paz entre Deus e o indivíduo, mas, a paz entre os seres humanos, nas famílias, entre os vizinhos, entre as comunidades, entre as nações.Tarefas possíveis:1. Faça um diagnóstico da situação da paz na região onde a Igreja local está situada.2. Sugira ações, ao alcance da Igreja, que possam gerar uma mudança no quadro.3. Pense em maneiras criativas de comunicar à Igreja e à sociedade essa ressignificação do ser humano a partir da criação.

quarta-feira, 30 de maio de 2007

O Espinho na carne de Paulo

Espinho na carne e carne no Espinho! Que problemão! Será?Paulo disse que teve grandes visões e revelações espirituais—foi levado ao Paraíso e ouviu o que ninguém ouve e sabe contar—, e que por causa disso foi-lhe enviado da parte de Deus um mensageiro de Satanás para que o esbofeteasse, a fim de que o apóstolo não se ensoberbecesse com a grandeza das coisas que a ele estavam sendo reveladas.Pediu a Deus três vezes para ficar livre daquele “espinho na carne”. O Senhor, todavia, não o removeu, tendo apenas dito a Paulo “a minha Graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza”.Que espinho era esse?Muita gente boa já fez considerações sobre o assunto. O espinho de Paulo já foi sua conjuntivite crônica, já foi a perseguição dos judaizantes, já foi o ter que trabalhar a fim de sustentar seu ministério, já foi o estilo calamitoso e desassossegado de vida que o acometeu, já foi a sua não aceitação pela Igreja de Jerusalém, já foi muita coisa...No início da década de setenta, nos Estados Unidos, e depois na década de oitenta, no Brasil, o espinho de Paulo ganhou outro “diagnóstico”.Li e ouvi pessoas tentando convencer o público do contrário. No auge da Teologia da Prosperidade, com seus líderes anunciando uma era na qual a fé rehma curava tudo e que quem não ficasse curado era porque não cria, o espinho de Paulo deixou de ser associado a qualquer forma de doença ou debilidade física ou financeira. Paulo não podia mais ficar doente e só passava privações por deliberação própria. Gostava! Virara o super-homem de Friedrich Nietzsche. Nem o próprio Nietzsche acreditaria que Paulo se tornou o super-homem dos cristãos, superior ao super-homem de Zaratustra.O fato é que Paulo, agora, não tinha mais permissão para adoecer. Seria falta de fé. Afinal, como poderia ele curar se estava doente? Num mundo onde o poder é do homem, somente seres absolutamente sãos podem transmitir saúde. Afinal, o dom não é da Graça, mas uma virtude desenvolvida pelo super-homem.Assim, o espinho na carne de Paulo deixou de ser qualquer coisa anteriormente relacionada a ele, tornando-se, assim, qualquer coisa, menos uma doença física—psicológica ou afetiva, nem pensar!—, mas não foi identificado como nada objetivo. Apenas se sabia que Paulo tinha um “espinho na carne”, mas não devia ser tão “importante”, pois Deus não quis removê-lo...Até mesmo a afirmação apostólica de que o espinho tinha finalidades terapêuticas não foi mais levada em consideração. Paulo ensoberbecer? Jamais!—bradam os santos mais santos que Paulo.E, assim, vão desespinhando a Paulo por uma única razão: Para nós a Graça não basta e o poder não se aperfeiçoa na fraqueza!Essa “graça” só basta como confeito ao bolo de nossas próprias virtudes. Essa “nossa graça” não gera humildade e dependência ao Senhor, mas arrogância e autonomia em relação a Deus.Esse “poder” só se aperfeiçoa como status atribuído ao sucesso das virtudes da “fé” obstinada e que chega onde quer porque assim determina. Esse “poder” gera seres malévolos e essa “fé” pode até colocar o individuo onde ele quer, mas não o põe onde Deus deseja.Para que se entenda o que aconteceu a Paulo não se tem que saber o que aconteceu com ele—mas em sua vida interior. E para sabermos do que se trata, basta que olhemos para nós mesmos. Boa parte do tempo que se gasta tentando saber informações históricas sobre o “espinho histórico” de Paulo, rouba-nos o tempo da viagem para dentro de nós mesmos, onde o fenômeno se repete, ainda que exteriormente ele tenha outra cara, talvez diferente da de Paulo.Há três princípios que precisam ser entendidos a fim de que se compreenda acerca do que o apóstolo está falando.1. O princípio das polaridades: À toda virtude humana—se assim pudermos definir o que não nasce em nós, mas vem de Deus—corresponde um pólo desvirtuoso. Assim, é a abundancia do pecado que faz superabundar a Graça. Ou seja: é porque a mulher da noite escura havia se dado em muitos falsos amores—na vivencia de sua própria carência—, que agora ela ouve o elogio do Senhor dizendo que ela “muito ama”. Tanto amor! Mas e o que havia dentro dela? Os produtos daquela mesma virtude já tinham tido cara de leviandade, promiscuidade e vagabundagem—para os expectadores, como o fariseu dono da casa. Desse modo, sempre que se vir grandes virtudes pode-se saber que existe o equivalente polar dentro do mesmo ser.Daí grandes “revelações” se fazerem acompanhar de “mensageiros de Satanás” a fim de equilibrar o bem em nós. Não há em nós equilíbrio nem para se viver o bem absoluto. Nada absoluto pode ser dado a um ser caído. Corrompe-o. Adoece-o. O faz cair da Graça. O único absoluto que não se corrompe num mundo caído é o Absoluto do amor de Deus. Afinal, esse é o mundo caído. E nele muitas vezes é do abismo que somos catapultados aos céus mais elevados na Graça!2. O principio da corruptibilidade de qualquer poder sem fraqueza: Todo poder num mundo caído, corrompe—quanto mais todo-poder! Não apenas o poder político, econômico, intelectual e cultural corrompem e se tornam instrumentos de controle e soberania, mas até mesmo as virtudes do poder ético, da moral, da santidade e da própria sabedoria—quanto mais a revelação! Por isso é que todos os homens que manifestaram o poder de Deus na Bíblia tiveram que viver em fraqueza. Poder de Deus sem fraqueza gera o diabo no ser. Transforma o “Querubim da Guarda” no “Acusador dos Irmãos”. Para o bem da própria alma o ser tem que conhecer, sem poder realizar tudo o conhece; saber, sem atingir tudo o que discerniu; alcançar, sem poder dizer que chegou lá sozinho. É assim que tem que ser num mundo caído! 3. O princípio da Graça só opera como Graça produtiva na fraqueza: Sem que a Graça se manifesta na fraqueza, não é e nem há Graça. Pois, nesse caso, a virtude humana e a gloria, é de quem pensa que conseguiu por conta própria. Para que a Graça cresça em nós nunca pode haver dúvida acerca de pelo menos duas coisas: a primeira é que “não vem de nós”; e segunda é que “não vem de nós para que ninguém se glorie”. Então alguém pergunta: Por que? Ora, digo eu: é que eu sou como eu sou e você é como você é! Você poderia se imaginar como um ser todo-poderoso e, ainda assim, essencialmente bom? Logo que algumas pequenas conquistas aparecem no horizonte mais banal—não importa se promoções ou se revelações—e o individuo já começa a mudar. Chega ao ponto em que a pessoa já fala de si mesma como se fosse uma “terceira pessoa”, um ente diferenciado dele—como se eu só me referisse aos meus gostos como “o pastor Caio gosta disso”—e que passa a ser tratado como o santo do próprio “santo”. É quando eu sou o santo de mim mesmo! Poder nas mãos do homem tem que se fazer exercer com espinho na carne. E Graça na vida humana tem que ser experimentada em fraqueza. Do contrário, o ser se converte em diabo.Assim, aprende-se que é melhor ter revelações e ainda assim ter que se conviver com o mensageiro de Satanás que nos esbofeteia, que ter apenas cogitação de poder humano e de sabedoria humana, sem qualquer espinho na carne!E pior: sem também ter a satisfação de ouvir Jesus dizer: “A minha Graça te basta, pois o poder se aperfeiçoa na fraqueza”. Não se tem que achar o espinho, ele nos acha!Não se tem que procurar a fraqueza, ela existe em nós!Não se tem nem que falar no assunto, ele tem voz própria!O segredo é aceitar o fato e não deixar de buscar conhecer todos os andares dos céus dos céus, sabendo que não é a minha virtude que me leva tão alto, mas a Graça que usou a minha fraqueza para revelar tanto, a quem antes de tudo já sabe que não tem do que se gloriar.O espinho na carne de Paulo interessa muito pouco saber qual era. Interessa mesmo é saber que ele tinha que estar lá.

segunda-feira, 28 de maio de 2007

Teologia da Prosperidade

Quando, na década de 80, a teologia da prosperidade chegou ao Brasil, ela veio como uma nova tese sobre a fé, prometia o céu aqui para o que tivesse certo tipo de fé. As promessas eram as mais mirabolantes: garantia de saúde a toda prova, riqueza, carros maravilhosos, salários altíssimos, posições de liderança, prosperidade ampla, geral e irrestrita. Lembro-me de, nessa época, ter ouvido de um ferrenho seguidor dessa teologia que, quem tivesse fé poderia, inclusive, negociar com Deus a data de sua morte, afirmava que, na nova condição de fé em que se encontrava, Deus teria de negociar com ele a data de sua partida para mundo dos que aguardam a ressurreição do corpo. Estamos, há cerca de vinte anos convivendo com isso, talvez, por isso, a grande pergunta sobre essa teologia seja: Como têm conseguido permanecer por tanto tempo? A tentação é responder a questão com uma sonora declaração sobre a veracidade desta proposição, ou seja, permanece porque é verdade, quem tem fé tem tudo isso e muito mais. Entretanto, quando se faz uma pesquisa, por mais elementar, o que se constata é que as promessas da teologia da prosperidade não se cumpriram, e, de fato, nem o poderiam, quando as regras da exegese e da hermenêutica são respeitadas, percebe-se: não há respaldo bíblico. Então qual a razão para essa longevidade? Em primeiro lugar, a vida longa se sustenta pela criatividade, os pregadores dessa mensagem estão sempre se reinventando, bem fez um de seus mais expoentes pregadores quando passou a chamar seu programa de TV de "Show da Fé", de fato é um espetáculo ás custas da boa fé do povo. Mesmo os mais discretos estão sempre expondo o povo, em alguns casos, quando mais simplório melhor, em outros, quanto mais bonita, e note-se o feminino, melhor. Além disso, é uma sucessão de invencionices: um dia é passar pela porta x, outro é tocar a trombeta y, ou empunhar a espada z, ou cobrir-se do manto x, e, por aí vai. Isso sem contar o sem número de amuletos ungidos, de águas fluidificadas e de bênçãos especiais. Suas igrejas são verdadeiros movimentos de massa, dirigidos por "pop stars" que tornam amadores os mais respeitados animadores de auditório da TV brasileira. Em segundo lugar, a vida longa se mantém pela penitência; os pregadores dessa panacéia descobriram que o povo gosta de pagar pelos benefícios que recebe, algo como "não dever nada a ninguém", fruto da cultura de penitência amplamente disseminada na igreja romana medieval, aliás, grande causadora da reforma protestante. Tudo nessas igrejas é pago. Ainda que cada movimento financeiro seja chamado de oferta, trata-se, na prática, de pagamento pela benção. Deus foi transformado num gordo e avaro banqueiro que está pronto a repartir as suas benesses para quem pagar bem, assim, o fiel é aquele que paga e o faz pela fé; a oferta, nessas comunidades, é a única prova de fé que alguém pode apresentar. Na idade média, como até hoje, entre os romanos, Deus podia ser pago com sacrifícios, tais como: carregar a cruz por um longo caminho num arremedo da via "crucis", ou subir de joelhos um número absurdo de degraus, ou, em último caso, acender uma velinha qualquer, não é preciso dizer que a maioria escolhe a vela. Mas, isso é no romanismo! Quem quer prosperidade, cura, promoções, carrões e outros beneplácitos similares tem de pagar em moeda corrente, afinal, dinheiro chama dinheiro, diz a crença popular. E tem de pagar antes de receber e, se não receber não pode reclamar, porque Deus sabe o que faz e, se não liberou a bênção é porque não recebeu o suficiente ou não encontrou a fé meritória. Esses pregadores têm o consumidor ideal. Em terceiro lugar são longevos porque justificam o capitalismo, embora, segundo Weber, o capitalismo seja fruto da ética protestante, (aliás, a bem da verdade é preciso que se diga que o capitalismo descrito por Max Weber em seu livro "A ética protestante e o espírito do capitalismo" não é, nem de longe, o praticado hoje, que se sustenta no consumismo, enquanto aquele se erguia da poupança, além disso, como sociólogo, Weber tirou uma foto, não fez um filme, suas teses se circunscrevem a sua época e nada mais) a fé, de modo geral, evangélica nunca se deu bem com a riqueza. A chegada, porém, dessa teologia mudou o quadro, o capital está, finalmente, justificado, foi promovido de grilhão que manieta a fé em troféu da mesma. Antes, o que se assenhoreava do capital tornava-se o avaro acumulador egoísta, agora, nessa tese, é o protótipo do ser humano de fé. Antes, o que corria atrás dos bens materiais era um mundano, hoje, para esses palradores, é o que busca o cumprimento das promessas celestiais. Juntamente com o capitalismo, essa mensagem justifica o individualismo, a bênção é para o que tem fé, ela é inalienável e intransferível. Eu soube de uma igreja dessas que, num rasgo de coerência, proibiu qualquer socorro social na comunidade para não premiar os que não tem fé. Assim, quem tem fé tem tudo quem não tem fé não tem nada. Antes, ter fé em Cristo colocava o sujeito na estrada da solidariedade, hoje, nesse tipo de pregação, o coloca no barranco da arrogância. Toda "esperteza" está justificada e incentivada. Não é de estranhar que ética seja um artigo em falta na vida e no "shopping center" de fé desses "ministros". Mas, o que isso tudo tem gerado, de verdade? Decepção, fragorosa decepção é tudo o que está sobrando no frigir dos ovos. As bênçãos mirabolantes não vieram porque Deus nunca as prometeu, e Deus não pode ser manipulado. O sucesso e a riqueza que, porventura, vieram foram mais fruto de manobras "espertalhonas", para dizer o mínimo, do que resultado de fé. Aliás, para muitos foi ficando claro que o que chamavam de fé, nada mais era do que a ganância que cega, o antigo conto do vigário foi substituído pelo conto do pastor. Gente houve que ficou doente, mas, escondeu; perdeu o emprego, mas, mentiu; acreditou ter recebido a cura, encerrou o tratamento médico e morreu. Um bocado de gente tentando salvar as aparências, tentando defender os seus lideres de suas próprias mentiras e deslizes éticos e morais; um mundo marcado pela esquizofrenia. O individualismo acabou por gerar frieza, solidão e, principalmente, perda de identidade, porque a gente só se torna em comunidade. Tudo isso acontecendo enquanto muitos fiéis observavam o contraste entre si e seus pastores, eles sendo alcançados pela perda de bens, pela angústia de uma fé inoperante, pela perda de entes queridos que julgavam absolutamente curados e os pastores enriquecendo, melhorando sensivelmente o padrão de vida, adquirindo patrimônio digno de nota, sendo contado entre o "jet set", virando artistas de TV, tudo em nome de um evangelho que diziam ter de ser pregado e que suas novas e portentosas posses avalizavam. E onde estão estes decepcionados? E para onde estão indo os seus pares? Muitos estão, literalmente, por aí, perderam aquela fé, mas não acharam a que os apóstolos e profetas da escritura judaico-cristã anunciaram; ouviram o nome Cristo, mas não o encontraram e pararam de procurar. Talvez, estejam perdidos para evangelho; para sempre. Outros, no meio de tudo isso foram achados por Cristo e estão procurando pelo lugar onde ele se encontra. Para os primeiros não há muito que fazer a não ser interceder diante do Eterno, para que se apiede dos que foram vergonhosamente enganados; para os que estão a procura, entretanto, é preciso desenvolver uma pastoral. Eles não estão chegando como chegam os que estão em processo de reconhecimento de Deus e do seu Cristo. Estão batendo às portas das comunidades que julgam sérias com a Bíblia a procura de cura para a sua fé, para a sua forma de ser crente, para a sua esperança de salvação, para a sua falta de comunidade e para a sua confusão doutrinária. Precisam, finalmente, ver a Jesus Cristo e a si mesmos; precisam, em meio a tanta desinformação encontrar o ensino, em meio a tanto engano recuperar a esperança. Necessitam de comunidade e de identidade, de abraço e de paciência, de paz e de alento, de fraternidade e de exemplo, de doutrina e de vida abundante. Quem quer que há de recebê-los terá de preparar-se para tanto, mesmo porque, ainda que certos da confusão a que foram expostos, a cultura que trazem é a única que têm e, nos momentos de crise, de qualquer natureza, será a partir desta que reagirão, até que o discipulado bíblico construa, com o tempo, uma nova e saudável cultura. Hoje, para além de tudo o que encerra a sua missão, a Igreja tem de corrigir os erros que, em seu nome, e, em muitos casos, sob a sua silenciosa conivência, foram e, ainda, estão sendo cometidos.
Ariovaldo Ramos

sábado, 12 de maio de 2007

A Alma Católica dos Evangelicos no Brasil

Os evangélicos no Brasil nunca conseguiram se livrar totalmente da influência do Catolicismo Romano. Por séculos, o Catolicismo formou a mentalidade brasileira, a sua maneira de ver o mundo ("cosmovisão"). O crescimento do número de evangélicos no Brasil é cada vez maior – segundo o IBGE, seremos 40 milhões esse ano de 2006 – mas há várias evidências de que boa parte dos evangélicos não tem conseguido se livrar da herança católica. É um fato que conversão verdadeira (arrependimento e fé) implica numa mudança espiritual e moral, mas não significa necessariamente uma mudança na maneira como a pessoa vê o mundo. Alguém pode ter sido regenerado pelo Espírito e ainda continuar, por um tempo, a enxergar as coisas com os pressupostos antigos. É o caso dos crentes de Corinto, por exemplo. Alguns deles haviam sido impuros, idólatras, adúlteros, efeminados, sodomitas, ladrões, avarentos, bêbados, maldizentes e roubadores. Todavia, haviam sido lavados, santificados e justificados "em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus" (1Co 6.9-11) sem que isso significasse que uma mudança completa de mentalidade houvesse ocorrido com eles. Na primeira carta que lhes escreve, Paulo revela duas áreas em que eles continuavam a agir como pagãos: na maneira grega dicotômica de ver o mundo dividido em matéria e espírito (que dificultava a aceitação entre eles das relações sexuais no casamento e a ressurreição física dos mortos – capítulos 7 e 15) e o culto à personalidade mantido para com os filósofos gregos (que logo os levou à formar partidos na igreja em torno de Paulo, Pedro, Apolo e mesmo o próprio Cristo – capítulos 1 a 4). Eles eram cristãos, mas com a alma grega pagã. Da mesma forma, creio que grande parte dos evangélicos no Brasil tem a alma católica. Antes de passar às argumentações, preciso esclarecer um ponto. Todas as tendências que eu identifico entre os evangélicos como sendo herança católica, no fundo, antes de serem católicas, são realmente tendências da nossa natureza humana decaída, corrompida e manchada pelo pecado, que se manifestam em todos os lugares, em todos os sistemas e não somente no Catolicismo. Como disse o reformado R. Hooykas, famoso historiador da ciência, “no fundo, somos todos romanos” (Philosophia Liberta, 1957). Todavia, alguns sistemas são mais vulneráveis a essas tendências e as absorveram mais que outros, como penso que é o caso com o Catolicismo no Brasil. E que tendências são essas? 1) O gosto por bispos e apóstolos – Na Igreja Católica, o sistema papal impõe a autoridade de um único homem sobre todo o povo. A distinção entre clérigos (padres, bispos, cardeais e o papa) e leigos (o povo comum) coloca os sacerdotes católicos em um nível acima das pessoas normais, como se fossem revestidos de uma autoridade, um carisma, uma espiritualidade inacessível, que provoca a admiração e o espanto da gente comum, infundindo respeito e veneração. Há um gosto na alma brasileira por bispos, catedrais, pompas, rituais. Só assim consigo entender a aceitação generalizada por parte dos próprios evangélicos de bispos e apóstolos auto-nomeados, mesmo após Lutero ter rasgado a bula papal que o excomungava e queimá-la na fogueira. A doutrina reformada do sacerdócio universal dos crentes e a abolição da distinção entre clérigos e leigos ainda não permearam a cosmovisão dos evangélicos no Brasil, com poucas exceções. 2) A idéia que pastores são mediadores entre Deus e os homens – No Catolicismo, a Igreja é mediadora entre Deus e os homens e transmite a graça divina mediante os sacramentos, as indulgências, as orações. Os sacerdotes católicos são vistos como aqueles através de quem essa graça é concedida, pois são eles que, com as suas palavras, transformam, na Missa, o pão e o vinho no corpo e no sangue de Cristo; que aplicam a água benta no batismo para remissão de pecados; que ouvem a confissão do povo e pronunciam o perdão de pecados. Essa mentalidade de mediação humana passou para os evangélicos, com algumas poucas mudanças. Até nas igrejas chamadas históricas os crentes brasileiros agem como se a oração do pastor fosse mais poderosa do que a deles, e que os pastores funcionam como mediadores entre eles e os favores divinos. Esse ranço do Catolicismo vem sendo cada vez mais explorado por setores neopentecostais do evangelicalismo, a julgar por práticas já assimiladas como “a oração dos 318 homens de Deus”, “a prece poderosa do bispo tal”, “a oração da irmã fulana, que é profetisa”, etc. 3) O misticismo supersticioso no apego a objetos sagrados – O Catolicismo no Brasil, por sua vez influenciado pelas religiões afro-brasileiras, semeou misticismo e superstição durante séculos na alma brasileira: milagres de santos, uso de relíquias, aparições de Cristo e de Maria, objetos ungidos e santificados, água benta, entre outros. Hoje, há um crescimento espantoso entre setores evangélicos do uso de copo d’água, rosa ungida, sal grosso, pulseiras abençoadas, pentes santos do kit de beleza da rainha Ester, peças de roupa de entes queridos, oração no monte, no vale; óleos de oliveiras de Jerusalém, água do Jordão, sal do Vale do Sal, trombetas de Gideão (distribuídas em profusão), o cajado de Moisés... é infindável e sem limites a imaginação dos líderes e a credulidade do povo. Esse fenômeno só pode se explicado, ao meu ver, por um gosto intrínseco pelo misticismo impresso na alma católica dos evangélicos. 4) A separação entre sagrado e profano – No centro do pensamento católico existe a distinção entre natureza e graça idealizada e defendida por Tomás de Aquino, um dos mais importantes teólogos da Igreja Católica. Na prática, isso significou a aceitação de duas realidades co-existentes, antagônicas e freqüentemente irreconciliáveis: o sagrado, substanciado na Santa Igreja, e o profano, que é tudo o mais no mundo lá fora. Os brasileiros aprenderam durante séculos a não misturar as coisas: sagrado é aquilo que a gente vai fazer na Igreja: assistir Missa e se confessar. O profano – meu trabalho, meus estudos, as ciências – permanece intocado pelos pressupostos cristãos, separado de forma estanque. É a mesma atitude dos evangélicos. Falta-nos uma mentalidade que integre a fé às demais áreas da vida, conforme a visão bíblica de que tudo é sagrado. Por exemplo, na área da educação, temos por séculos deixado que a mentalidade humanista secularizada, permeada de pressupostos anticristãos, eduque os nossos filhos, do ensino fundamental até o superior, com algumas exceções. Em outros países os evangélicos têm tido mais sucesso em manter instituições de ensino que além de serem tão competentes como as outras, oferecem uma visão de mundo, de ciência, de tecnologia e da história oriunda de pressupostos cristãos. Numa cultura permeada pela idéia de que o sagrado e profano, a religião e o mundo, são dois reinos distintos e frequentemente antagônicos, não há como uma visão integral surgir e prevalecer a não ser por uma profunda reforma de mentalidade entre os evangélicos. 5) Somente pecados sexuais são realmente graves – A distinção entre pecados mortais e veniais feita pelo romanismo católico vem permeando a ética brasileira há séculos. Segundo essa distinção, pecados considerados mortais privam a alma da graça salvadora e condenam ao inferno, enquanto que os veniais, como o nome já indica, são mais leves e merecem somente castigos temporais. A nossa cultura se encarregou de preencher as listas dos mortais e dos veniais. Dessa forma, enquanto se pode aceitar a “mentirinha”, o jeitinho, o tirar vantagem, a maledicência, etc., o adultério se tornou imperdoável. Lula foi reeleito cercado de acusações de corrupção. Mas, se tivesse ocorrido uma denúncia de escândalo sexual, tenho dúvidas de que teria sido reeleito, ou que teria sido reeleito por uma margem tão grande. Nas igrejas evangélicas – onde se sabe pela Bíblia que todo pecado é odioso e que quem guarda toda a lei de Deus e quebra um só mandamento é culpado de todos – é raro que alguém seja disciplinado, corrigido, admoestado, destituído ou despojado por pecados como mentira, preguiça, orgulho, vaidade, maledicência, entre outros. As disciplinas eclesiásticas acontecem via de regra por pecados de natureza sexual, como adultério, prostituição, fornicação, adição à pornografia, homossexualismo, etc., embora até mesmo esses estão sendo cada vez mais aceitáveis aos olhos evangélicos. Mais um resquício de catolicismo na alma dos evangélicos? O que é mais surpreendente é que os evangélicos no Brasil estão entre os mais anti-católicos do mundo. Só para ilustrar (e sem entrar no mérito dessa polêmica) o Brasil é um dos poucos países onde convertidos do catolicismo são rebatizados nas igrejas evangélicas. O anti-catolicismo brasileiro, todavia, se concentrou apenas na questão das imagens e de Maria, e em questões éticas como não fumar, não beber e não dançar. Não foi e não é profundo o suficiente para fazer uma crítica mais completa de outros pontos que, por anos, vêm moldando a mentalidade do brasileiro, como mencionei acima. Além de uma conversão dos ídolos e de Maria a Cristo, os brasileiros evangélicos precisam de conversão na mentalidade, na maneira de ver o mundo. Temos de trazer cativo a Cristo todo pensamento e não somente os nossos pecados. Nossa cosmovisão precisa também de conversão (2Coríntios 10.4-5). Quando vejo o retorno de grandes massas ditas evangélicas às práticas medievais católicas de usar no culto a Deus objetos ungidos e consagrados, procurando para si bispos e apóstolos, imersas em práticas supersticiosas, me pergunto se, ao final das contas, o neopentecostalismo brasileiro não é, na verdade, um filho da Igreja Católica medieval, uma forma de neo-catolicismo tardio que surge e cresce em nosso país onde até os evangélicos têm alma católica.
Augustus Nicodemus Lopes é paraibano e pastor presbiteriano. É bacharel em teologia pelo Seminário Presbiteriano do Norte (Recife), mestre em Novo Testamento pela Universidade Reformada de Potchefstroom (África do Sul) e doutor em Interpretação Bíblica pelo Westminster Theological Seminary (EUA), com estudos no Seminário Reformado de Kampen (Holanda). É chanceler da Universidade Presbiteriana Mackenzie e pastor auxiliar da Igreja Presbiteriana de Santo Amaro. É autor de vários livros, entre eles O Que Você Precisa Saber Sobre Batalha Espiritual (CEP).

quinta-feira, 19 de abril de 2007

Adoração que Transforma

Vamos adorar a Deus Ariovaldo Ramos “E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito.” (2Co cap três, verso dezoito) Deus a gente adora, isso é certo, mas como é que se adora a Deus? Proponho que nesse texto, Paulo nos aponta um caminho. Ele diz que, diferente de Moisés, a gente não precisa usar o véu sobre o rosto (2Co 3.13), Moisés decidiu usá-lo porque o brilho da glória foi desaparecendo, e ele não queria que o povo o percebesse, isso porque o brilho dependia da exposição de Moisés à glória de Deus, o que aconteceu no Sinai, uma vez que ele não estava mais exposto, porque teve de descer do monte, teve de voltar para o meio do povo, o brilho foi, naturalmente, desaparecendo. E, por que a gente não precisa usar esse véu? Não é porque nosso brilho é de melhor qualidade e dura mais tempo, mas, porque a gente está sempre diante da glória do Senhor, a gente não precisa ir a nenhum lugar especial para ficar exposto à glória do Senhor, a gente pode e deve estar o tempo todo diante da glória do Senhor, logo, depende só da gente, só não fica exposto à glória do Senhor quem não quiser. E como a gente faz para expor-se e manter-se exposto? A gente já está exposto, portanto, a primeira coisa que devemos desenvolver é essa consciência, estamos sempre diante da glória do Senhor, tudo o que a gente pensa, fala e faz é diante dele. Em segundo lugar, temos de transformar tudo que pensamos ou fazemos num culto ao Senhor, conscientes de que pensando ou agindo estamos sempre diante dele, daí a gente tem de se portar de modo digno de quem está na presença do Senhor, logo, certos pensamentos e sentimentos têm de ser rechaçados de cara (Ef 4.31; Col 3.5-9), porque não são dignos de quem está na presença da glória do Senhor, e tudo que a gente fizer tem de ser do jeito que Deus gosta (Col 3.23). O que é a glória do Senhor? É a forma como o Senhor se mostra a nós. A gente contempla a glória do Senhor e é transformado à imagem do Senhor. Porém, a gente está olhando a glória do Senhor como quem se olha no espelho e a gente se olha no espelho para se acertar, logo, contemplar a glória do Senhor é olhar para a imagem com a qual ele se nos apresenta de modo a nos acertarmos a partir dessa imagem, para ser cada vez mais parecido com a imagem que estamos vendo. De que forma o Senhor se apresenta a nós? Segundo Ap 5.6, como cordeiro, uma vez que o ancião que se aproximou de João para dizer-lhe que não precisava mais chorar, disse-lhe que o Leão da tribo de Judá havia vencido e estava apto para tomar o livro e abrir-lhe os selos, porém, quando João se levantou para ver o Leão, viu o Cordeiro. Jesus, para o céu, é o Leão, mas, para nós é o Cordeiro, aliás, em apocalipse Jesus é citado como Leão uma vez e, como Cordeiro, 31 vezes. Jesus se apresenta a nós a partir de sua humilhação e apresenta a sua humilhação como modelo de vida para nós, como disse Paulo em Fp 2.5-8. Jesus sempre se apresenta a nós como cordeiro e demanda que a gente viva, também, como cordeiro. E viver assim é que é adorar ao Senhor, e quanto mais a gente vai nessa direção mais o Espírito Santo nos transforma em gente assim, de modo que vai ficando cada vez mais natural. E quanto mais nós, porque isso é comunitário, vamos sendo transformados à imagem do Cordeiro mais vamos sendo edificados.