sábado, 25 de agosto de 2007

A Questão da Violência

Desde os primórdios, a raça humana tem se perguntado sobre como podemos viver juntos, já tentamos muitas formas de organização: do clã primitivo até as democracias mais avançadas, como as escandinavas, por exemplo, porém, não conseguimos nos livrar da violência, do assassinato e da guerra.Nós, no Brasil, temos vivido uma das faces mais angustiantes dessa verdade, a violência urbana.Qual a razão disso? Muitas e de variadas naturezas são as causas possíveis, porém, eu gostaria de começar por uma das que subjazem às demais: a ausência de fraternidade.Fraternidade, para nós cristãos, significa a faculdade de ver-se no outro, isto é de ver o outro como um irmão, que merece ser tratado com a mesma dignidade e respeito com que gostaríamos de ser tratados. Quando alguém não se vê no outro, tende a considerá-lo ou como superior ou como inferir, no primeiro caso tenderá à rebelião, no segundo caso a alguma forma de opressão. Se nos víssemos como iguais, as diferenças entre nós seriam apenas funcionais, de modo que todos nos veríamos como parte de um todo, onde todos deveriam trabalhar para o bem de todos, onde todos os movimentos sócio-econômico-políticos buscariam promover a igualdade, em todas as dimensões, o que encurtaria as distâncias entre os seres humanos.Por que temos falhado na noção e na prática da fraternidade? Temos falhado por perda de identidade. Vivemos, desde o fim do século XIX, numa sociedade marcada pela idéia da seleção natural, primeiramente, adotada pela biologia, à partir das idéias de Darwin e, mais tarde, assumida pelas ciências humanas. A tese da seleção natural preconiza a sobrevivência do mais forte o que, na prática, quando transportada para as humanidades, justifica qualquer ato que leve à superação de um espécime sobre o outro. A aplicação disto à sociedade humana implica na amoralidade, isto é na possibilidade de, na luta pela sobrevivência, tudo ser permitido para que um ser humano demonstre seu direito de sobreviver, não importando o que isso venha a significar para outro ser humano. Como em nossa sociedade direito à sobrevivência está diretamente ligado a poder econômico, quanto mais alguém tem, mais direito possui. O Brasil tem sido um exemplo acabado dessa realidade universal. Não é segredo para ninguém, que a legislação brasileira privilegia o patrimônio em detrimento ao direito à vida. A conseqüência dessa forma de pensar e de praticar o direito gerou o Brasil que vivemos, onde, principalmente na área econômica os sinais de fraternidade são imperceptíveis.No Brasil não há limite para a posse, o que, por denunciar a falta de fraternidade gera um estado de guerra, pois, onde o que pode, tudo pode, só resta ao que não pode a revolta. Uma sociedade formada a partir dessa falsa identidade só pode gerar uma sociedade sem propósito comum.Qual deveria ser a identidade assumida para alcançarmos a fraternidade desejada? Para que esse espírito de fraternidade seja desenvolvido é preciso recuperar a verdade bíblica de que a humanidade é uma família criada à imagem de Deus, que é a família padrão, isto é, Deus, que é uma família: Pai, Filho e Espírito Santo – ao decidir criar alguém à sua semelhança só poderia criar uma outra família.Precisamos, no Brasil trabalhar a identidade humana sob a perspectiva da criação. Lembremo-nos que essa distorção vem de longa data, começa pela colonização que sofremos por parte dos portugueses que, ainda que muito anteriores a tese darwinista, na pratica agiam assim, movidos por um catolicismo há muito desprovido da verdadeira fé cristã, o mesmo romanismo que, implantado no Brasil gerou uma ética rarefeita e, logo, uma moral utilitarista; passando pelo positivismo, filosofia dominante no Brasil no século XIX, que influenciou, inclusive, a frase contida em nossa bandeira: Ordem e Progresso, e que pregava a emancipação do homem na sua não necessidade de Deus.Isso precisa ser revisto, e se faz necessário todo um processo pedagógico. Só na medida em que recuperarmos a consciência de que a humanidade é uma família só entenderemos que a fraternidade é o único modo plausível de vida e, assim, a busca pela justiça social deixará de ser ideológica para se tornar existencial. Da mesma forma a conseqüente valorização da vida humana não só promoverá a correção da legislação brasileira como inibirá a violência. Só numa sociedade assim frases paulinas farão sentido, tais como: “Aquele que furtava não furte mais, antes, trabalhe para ter com o que acudir ao necessitado.” – “Aquele que colheu demais não tenha sobrando, para que o que colheu de menos não passe necessidade.” – “Não amordace a boca do boi que debulha milho.” (O que dá a entender que o trabalhador deve ser o primeiro a desfrutar do resultado de seu trabalho).Por onde começar isso? Por todas as possibilidades eu diria. A começar pela compreensão dessa distorção antropológica em toda a abrangência, e a pregação do verdadeiro evangelho que, desde sempre, deveria ter sido o fundamento na construção dessa nação. Mas, também, é possível começar pela prática da responsabilidade social. Ou, por uma revisão do direito praticado no país e conseqüente legislação. Ou pela luta popular, organizando a sociedade civil democrática por políticas públicas que diminuam a distância entre os habitantes deste país. Também, por programas de resgate da juventude da tentação do crime organizado; por exemplo: cada igreja poderia se tornar um centro de recreação e arte para crianças e jovens, ou um centro de reforço escolar, ou de reciclagem profissional, quem sabe, de inclusão digital. O importante é que, imbuído dessa ressignificação do ser humano, deflagremos uma série de medidas com vista ao desenvolvimento transformador sustentável.O papel da Igreja de sal da terra e de luz do mundo implica nesse nível de interação com a comunidade, porque um dos ministérios mais necessários da Igreja na situação descrita é o de agente de paz, não só a paz entre Deus e o indivíduo, mas, a paz entre os seres humanos, nas famílias, entre os vizinhos, entre as comunidades, entre as nações.Tarefas possíveis:1. Faça um diagnóstico da situação da paz na região onde a Igreja local está situada.2. Sugira ações, ao alcance da Igreja, que possam gerar uma mudança no quadro.3. Pense em maneiras criativas de comunicar à Igreja e à sociedade essa ressignificação do ser humano a partir da criação.

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